segunda-feira, 25 de maio de 2015

Psicologia de Um Vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco.
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Produndíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

- Augusto dos Anjos

2 comentários:

  1. bastante a ver esse poema com o tema, Augusto dos Anjos fala tanto com tão poucas palavras! Muito bom!

    Carol Lopes

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  2. Augusto dos anjos, "Cantor da poesia de tudo que é morto". Como não citar esse poeta que nós faz refletir sobre a morte em suas metáforas! Parabéns, aguardando próximas postagens!

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