quinta-feira, 25 de junho de 2015

Sobre Aqueles à Beira da Morte

   Sabemos que durante a nossa vida iremos nos deparar com pacientes em estágio terminal, talvez como profissionais, ou simplesmente alguém em nossa família. Sabe-se hoje, que o atendimento a um paciente terminal necessita fundamentalmente de uma equipe multiprofissional, e que esta equipe saiba lidar com os estágios pelo qual o paciente passa, assim como deve saber lidar com a família que assiste em desespero àquela situação.
   Os estágios emocionais do paciente à beira da morte foram descritos por E. Kübler Ross, em seu livro Sobre a Morte e o Morrer, e que permitem uma visão real da complexidade vivida pelo paciente diante da sua terminalidade. São eles: a negação e o isolamento, a raiva (revolta), a barganha, a depressão e a aceitação, complementando-se com a esperança, que persiste em todos estes estágios e que é o que conduz o paciente a suportar sua dor. Segundo alguns autores, a perda da esperança, é um comum anúncio preeminente da chegada da morte.
   A negação é mais frequente no início da doença, e de certa forma já está previamente instalada em toda a população, a qual não aceita que um dia irá deixar de existir. Nesse estágio, o paciente normalmente nega a sua doença e seu estado, muitas vezes recusando a tocar no assunto.
   No estágio da raiva, é comum ser considerado um estágio dos “porquês”- “por que eu?”, ”por que comigo?”. Nesse momento a pessoa torna-se comumente exigente, reclama bastante e tende a fazer críticas. No entanto, é importante tolerar esta fase, pois sabe-se que o paciente precisa “externalizar” seus sentimentos de angústia.
   Na barganha o paciente comumente negocia com Deus, mesmo aqueles que diziam não ter religião, prometendo promover o bem em troca de longevidade, as quais normalmente não cumpre.
   A depressão surge quando o paciente não pode mais negar uma doença já instalada, as vezes quando é submetido a mais uma abordagem terapêutica, apresenta novos sintomas ou tornar-se mais debilitado. Seu alheamento e revolta tendem a ceder lugar a um sentimento de grande perda.
   Por fim, a aceitação é quando a pessoa não mais se encontra depressiva ou revoltada. É o momento em que encontra paz e aceita o que está acontecendo. Neste momento a família necessita de bastante ajuda, pois tende a ser o estágio final, realmente à beira da morte.
   Tendo conhecimento desses estágios, pode-se abordar estrategicamente cada um deles, amenizando o sofrimento da família e do paciente.

- João Marcos Neves e Pedro Sales

domingo, 14 de junho de 2015

Como lidar com a morte?

     Quando se perde alguém violentamente, de modo repentino ou inesperado, quem fica permanece nesse limbo por um tempo indeterminado. É comum pessoas em processo de luto por morte abrupta serem tomadas por um estado de catatonia, semelhante a um morto-vivo, ou a um robô, que passa a agir no "piloto-automático", sem domínio ou vontade de controlar suas ações. Uma parte continua vivendo, pois entende ser necessário, mas a outra não está lá. A alma fica dividida e constantemente, o enlutado sente que morreu também e que sua história nunca mais será a mesma.
   De fato, nunca mais será, pois a morte marca a alma. Entretanto, estamos na vida para sermos transformados a partir das experiência que o acaso (será?) nos propõe. A superação só se dá a partir de um longo processo e ela não significa esquecer, fingir que não aconteceu ou ainda não sentir dor quando lembrar. Superar significa apenas aceitar e continuar.
     Mas como aceitar algo que não faz sentido? Algo que não vem com avisos, que não parece ter um por quê dentro da lógica do merecimento? Como aceitar a morte de alguém bom, que tinha uma vida enorme pela frente? E que o destino levou em segundos, sem nos ter orientado para aquele momento? Como continuar sem ter mais vontade de viver, sem ter um sentido que nos norteie?

- Mariana Andrade

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Medicina e Morte

   No inicio dos tempos, quando o Homem ainda não possuía conhecimentos que pudessem adiar sua morte, ele a compreendia como parte do ciclo da vida e algo inevitável. A morte era venerada nas mais diversas religiões e fazia parte do dia a dia. Havia o desejo de uma morte lenta e gradual, já que, na maioria dos casos, morria-se de forma rápida e inesperada, pois não existiam defesas para as doenças que os assolavam.
   Com o passar dos anos, esse Homem foi adquirindo tal conhecimento medicinal, e aprimorando-o, que transformou a medicina rudimentar no que é atualmente. No entanto, junto a esse aprimoramento, mudou também a forma de pensar sobre a morte, tornando-a algo a temer e rejeitar.  Em razão disso, ela deixou de ser vivenciada no dia a dia das pessoas, passando a ocorrer dentro dos hospitais, longe dos olhares do povo. Também, inúmeras formas foram criadas para evitar esse acontecimento. Medicamentos, cirurgias, tratamentos em geral, estão agora disponível para tratar quaisquer enfermidades apresentadas pelos pacientes, prolongando suas vidas a qualquer preço e fazendo-os viver mais. Assim, o Homem conquistou seu desejo de uma morte longa e gradual.
   Mas será que esse desejo alcançou o resultado esperado? Hoje vemos que ao tentar prolongar nossas vidas ao máximo, acabamos por não ter um final tranquilo, mas sim, repleto de sofrimento e dor, deitados em leitos hospitalares, muitas vezes sozinhos, tudo por conta dessa mudança de perspectiva sobre a morte, não a enxergando mais como algo natural, mas como algo a evitar a todo custo.

- Gustavo Dürr

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Psicologia de Um Vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco.
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Produndíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

- Augusto dos Anjos

A Morte e o Morrer

   A eutanásia é um tema que tem sido bastante debatido na sociedade, nos meios de comunicação e nos meios científicos. A complexidade de tal temática é revelada pela multiplicidade de perspectivas envolvidas no debate, tais como: a teológica, a filosófica e a bioética e propicia implicações para a prática médica. As questões levantadas pelos avanços nas técnicas de manutenção da vida e prolongamento da sobrevida acabam por centralizar grande parte do debate sobre eutanásia e morte assistida.

   A vivência da morte na sociedade contemporânea acaba por se restringir aos cenários hospitalares, ocorrendo uma negação profunda da mesma. Já sua vivência subjetiva fica por demais empobrecida e silenciada. Um argumento que influencia o atual debate sobre a eutanásia é o progresso da medicina, que não somente aumentou espetacularmente a expectativa de vida do ser humano, mas que também pode prolongar um longo e penoso processo de morrer. Com efeito, o progressivo envelhecimento da população permite que um maior contingente de pessoas chegue à senectude, tornando-se mais suscetível às moléstias crônicas e degenerativas, como os cânceres e, por conseguinte, a um processo de morrer mais prolongado e sujeito ao sofrimento.

   O conceito de eutanásia carrega consigo o problema da distinção entre o que é ou não lícito, entre o que é liberdade para morrer e o que é o dever de salvar vidas. É aí que entra um dos pontos da discussão, pois a tradição hipocrática tem acarretado que os médicos e outros profissionais de saúde se dediquem a proteger e preservar a vida. Se a eutanásia for aceita como um ato médico, os médicos terão também a tarefa de causar a morte. A questão de nossa finitude existencial remonta a filosofia grega. A dimensão teológica está presente nas grandes questões bioéticas e contemporâneas, tais como: eutanásia, distanásia e mistanásia. A dimensão psicológica inerente ao tema do morrer foi elucidada nas contribuições da psiquiatra suíça Kübler-Ross. Esta psiquiatra observou as diferentes estratégias de enfrentamento do morrer. Pacientes graves na busca de alívio da angústia diante desta realidade, passam a negar, barganhar, chorar, se rebelar e alguns conseguem aceitar a realidade da morte. Os médicos, quanto ao aspecto moral, devem ter bem claro se morrer é, realmente, o desejo do paciente.

   Percebe-se, portanto, que o tabu da morte acaba por impedir a realização de rituais mais humanizados e significativos no contexto médico contemporâneo. O mutismo diante do morrer não nos imuniza da angústia diante de nossa finitude existencial, nem tão pouco alivia a dor inerente aos processos de luto necessários à elaboração das perdas e à dissipação dos medos evocados pela morte, bem como impede o aprofundamento nas questões bioéticas fundamentais para o enfrentamento de tal questão. 

Um breve resumo do artigo http://www.escs.edu.br/pesquisa/revista/2007Vol18_1art08amorteeomorrer.pdf


- Mariana Andrade

A História da Morte na Humanidade

   Por todo o desenvolvimento da humanidade, a morte foi assimilada com respeito, medo do desconhecido, modo de salvação ou rito de passagem. Sem dúvidas, a interpretação que o ser humano tem sobre a falência dos sistemas, a parada da atividade corpórea, a morte é única. Nenhum outro ser recebe a morte de maneira tão ritualística e temerosa. Talvez seja porque o ser humano tenha um desenvolvimento psiquico diferenciado em relação aos outros seres.

  Descobertas arqueológicas apontam que os Neandertais foram os primeiros a enterrar os mortos, substituindo hábitos como cobrir o cadáver de pedras, ou deixá-lo à mercê dos animais.
Mudanças nas concepções sobre a vida e a morte favoreceram o desenvolvimento de diversos ritos de passagem e de crenças religiosas. Os egípcios, por exemplo, acreditavam na eternidade e para isso eram realizados rituais e construções de tumbas, em que passavam por um longo processo de mumificação para conservar o corpo da deterioração. Também eram acompanhados dos seus objetos, o que possibilitava a conexão da alma com o corpo terreno.

   Outra representação da morte muito interessante é a que os gregos tinham. O morto era limpo, coberto com mortalha e se colocava uma moeda na sua boca. Essa moeda serviria como pagamento para o barqueiro do mundo dos mortos.

   Os romanos e, posteriormente, o catolicismo, influenciaram a concepção ocidental conteporânea da morte. Os romanos foram os primeiros a realizar esculturas em seus túmulos. Também realizavam a cremação como forma de passagem para uma nova fase. Já na idade média, a morte e o catolicismo andavam juntos. Quando o homem constatava que a morte estava próxima, pedia perdão dos seus pecados para ser levado ao paraíso, caso contrário, queimaria no fogo do inferno. Nesse período, a morte passou a ser personificada com horror, guerra e epidemias que alastravam sociedades inteiras. A igreja, dessa forma, usou este artifício como forma de cativo dos seus fieis, e estabeleceu-se então o medo da morte.

   O desenvolvimento das sociedades e, principalmente, das ciências biológicas deu espaço para a interpretação cientificista da morte: “O ser vivo morre devido a falhas orgânicas em um ou mais sistemas ou órgãos, impossibilitando a manutenção da homeostasia corporal”. Porém, sem dúvidas, o temor da morte assola a maioria dos indivíduos. Temor, esse, que não é unicamente reflexo religioso, mas também por medo de nunca mais ver as pessoas queridas. Uma interpretação inovadora sobre a morte, que surgiu no ambito médico, no século XVII, foi a morte como libertação do sofrimento. Essa nova interpretação surgiu como a eutanásia, com o objetivo de tirar o sofrimento daqueles doentes crônicos.

   Portanto, a morte sempre causou curiosidade, medo ou esperança para as populações. A interpretação da morte nada mais é do que o reflexo dos movimentos histórico-sociais, culturais e econômicos. E nesse sentido, talvez, o homem nunca tenha certeza de para onde vai após a vida terrena.



- Pedro Sales Pamponet

sábado, 23 de maio de 2015