segunda-feira, 25 de maio de 2015

Psicologia de Um Vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco.
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Produndíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

- Augusto dos Anjos

A Morte e o Morrer

   A eutanásia é um tema que tem sido bastante debatido na sociedade, nos meios de comunicação e nos meios científicos. A complexidade de tal temática é revelada pela multiplicidade de perspectivas envolvidas no debate, tais como: a teológica, a filosófica e a bioética e propicia implicações para a prática médica. As questões levantadas pelos avanços nas técnicas de manutenção da vida e prolongamento da sobrevida acabam por centralizar grande parte do debate sobre eutanásia e morte assistida.

   A vivência da morte na sociedade contemporânea acaba por se restringir aos cenários hospitalares, ocorrendo uma negação profunda da mesma. Já sua vivência subjetiva fica por demais empobrecida e silenciada. Um argumento que influencia o atual debate sobre a eutanásia é o progresso da medicina, que não somente aumentou espetacularmente a expectativa de vida do ser humano, mas que também pode prolongar um longo e penoso processo de morrer. Com efeito, o progressivo envelhecimento da população permite que um maior contingente de pessoas chegue à senectude, tornando-se mais suscetível às moléstias crônicas e degenerativas, como os cânceres e, por conseguinte, a um processo de morrer mais prolongado e sujeito ao sofrimento.

   O conceito de eutanásia carrega consigo o problema da distinção entre o que é ou não lícito, entre o que é liberdade para morrer e o que é o dever de salvar vidas. É aí que entra um dos pontos da discussão, pois a tradição hipocrática tem acarretado que os médicos e outros profissionais de saúde se dediquem a proteger e preservar a vida. Se a eutanásia for aceita como um ato médico, os médicos terão também a tarefa de causar a morte. A questão de nossa finitude existencial remonta a filosofia grega. A dimensão teológica está presente nas grandes questões bioéticas e contemporâneas, tais como: eutanásia, distanásia e mistanásia. A dimensão psicológica inerente ao tema do morrer foi elucidada nas contribuições da psiquiatra suíça Kübler-Ross. Esta psiquiatra observou as diferentes estratégias de enfrentamento do morrer. Pacientes graves na busca de alívio da angústia diante desta realidade, passam a negar, barganhar, chorar, se rebelar e alguns conseguem aceitar a realidade da morte. Os médicos, quanto ao aspecto moral, devem ter bem claro se morrer é, realmente, o desejo do paciente.

   Percebe-se, portanto, que o tabu da morte acaba por impedir a realização de rituais mais humanizados e significativos no contexto médico contemporâneo. O mutismo diante do morrer não nos imuniza da angústia diante de nossa finitude existencial, nem tão pouco alivia a dor inerente aos processos de luto necessários à elaboração das perdas e à dissipação dos medos evocados pela morte, bem como impede o aprofundamento nas questões bioéticas fundamentais para o enfrentamento de tal questão. 

Um breve resumo do artigo http://www.escs.edu.br/pesquisa/revista/2007Vol18_1art08amorteeomorrer.pdf


- Mariana Andrade

A História da Morte na Humanidade

   Por todo o desenvolvimento da humanidade, a morte foi assimilada com respeito, medo do desconhecido, modo de salvação ou rito de passagem. Sem dúvidas, a interpretação que o ser humano tem sobre a falência dos sistemas, a parada da atividade corpórea, a morte é única. Nenhum outro ser recebe a morte de maneira tão ritualística e temerosa. Talvez seja porque o ser humano tenha um desenvolvimento psiquico diferenciado em relação aos outros seres.

  Descobertas arqueológicas apontam que os Neandertais foram os primeiros a enterrar os mortos, substituindo hábitos como cobrir o cadáver de pedras, ou deixá-lo à mercê dos animais.
Mudanças nas concepções sobre a vida e a morte favoreceram o desenvolvimento de diversos ritos de passagem e de crenças religiosas. Os egípcios, por exemplo, acreditavam na eternidade e para isso eram realizados rituais e construções de tumbas, em que passavam por um longo processo de mumificação para conservar o corpo da deterioração. Também eram acompanhados dos seus objetos, o que possibilitava a conexão da alma com o corpo terreno.

   Outra representação da morte muito interessante é a que os gregos tinham. O morto era limpo, coberto com mortalha e se colocava uma moeda na sua boca. Essa moeda serviria como pagamento para o barqueiro do mundo dos mortos.

   Os romanos e, posteriormente, o catolicismo, influenciaram a concepção ocidental conteporânea da morte. Os romanos foram os primeiros a realizar esculturas em seus túmulos. Também realizavam a cremação como forma de passagem para uma nova fase. Já na idade média, a morte e o catolicismo andavam juntos. Quando o homem constatava que a morte estava próxima, pedia perdão dos seus pecados para ser levado ao paraíso, caso contrário, queimaria no fogo do inferno. Nesse período, a morte passou a ser personificada com horror, guerra e epidemias que alastravam sociedades inteiras. A igreja, dessa forma, usou este artifício como forma de cativo dos seus fieis, e estabeleceu-se então o medo da morte.

   O desenvolvimento das sociedades e, principalmente, das ciências biológicas deu espaço para a interpretação cientificista da morte: “O ser vivo morre devido a falhas orgânicas em um ou mais sistemas ou órgãos, impossibilitando a manutenção da homeostasia corporal”. Porém, sem dúvidas, o temor da morte assola a maioria dos indivíduos. Temor, esse, que não é unicamente reflexo religioso, mas também por medo de nunca mais ver as pessoas queridas. Uma interpretação inovadora sobre a morte, que surgiu no ambito médico, no século XVII, foi a morte como libertação do sofrimento. Essa nova interpretação surgiu como a eutanásia, com o objetivo de tirar o sofrimento daqueles doentes crônicos.

   Portanto, a morte sempre causou curiosidade, medo ou esperança para as populações. A interpretação da morte nada mais é do que o reflexo dos movimentos histórico-sociais, culturais e econômicos. E nesse sentido, talvez, o homem nunca tenha certeza de para onde vai após a vida terrena.



- Pedro Sales Pamponet

sábado, 23 de maio de 2015

"Um jovem e um copo de vinho curam qualquer necessidade: quem não bebe e não beija está pior que morto" 

- Goethe

A morte segundo Jorge Amado:

    No livro "A morte e a morte de Quincas Berro D'água" o consagrado autor baiano discorre claramente sobre a temática da morte, evidenciando que não existe somente a morte física, quando há ausência de sinais vitais num corpo, uma vez que seu personagem morte em três momentos distintos, alternando mortes sociais à morte física.

    A primeira morte de Quincas ocorre para a família, mulher e filha, do personagem, já que ele a renuncia por uma vida de farra, malandragem e bebedeira junto à "ralé" da sociedade de Salvador. Abdicando, assim, de tudo aquilo que construiu durante sua vida, mudando de costumes, de modo que morre para uns e nasce para outros.

   Então, ocorre a sua morte física, na qual ele estava só, largado em sua cama, num quartinho imundo. Contudo, ainda que sem sinais vitais, suas aventuras não terminaram, uma vez que para seus amigos ele ainda continuava "vivo", sendo carregado para um último "giro" pelo baixo mundo em que habitava.

    Por fim, há sua última morte, a que ocorre para seus amigos, sendo dada por esses como a verdadeira morte de Quincas, quando o seu corpo cai no mar.

- João Couto

O que é a morte? Seria ela um simples fato ou um objeto complexo?

"Morrer é algo que nós seres humanos fazemos constantemente, não somente ao final de nossa vida física nessa Terra."

- Elisabeth Kübler-Ross


   Durante a história, diversas culturas tentaram retratar sua visão sobre a morte, personificando-a ou deificando-a, para de alguma forma tentar entende-la e explica-la. O morrer em algumas culturas configura-se até como questão de honra.
   
   O conceito básico da morte, ou como podemos chama-la melhor, a morte física, constitui-se como um momento irreversível no qual toda atividade biológica de um corpo, necessária para viver, cessa. No entanto, seria essa a única forma de morte entre nós seres humanos?
   
   A partir do momento em que nos distinguimos de outros animais por possuirmos emoções e raciocínio (lógico e emocional), estes não poderiam se tornar peças fundamentais para compor a existência humana?
   
   A morte pode se configurar de formas distintas, não se limitando apenas ao fator físico, palpável de si mesma. A morte subjetiva pode configurar-se como a existência física, mas não mental/emocional de um indivíduo.
   
   O ser humano, assim como todos animais, possui um instinto de sobrevivência. No entanto, o homem possui um fato que interfere em tal. Em cada um de nós “convive” duas ideias, que ajudam a compor a vida, mas podem vir a se opor: a vontade/motivo de viver X o instinto de sobrevivência.
   
   Aquele que perde sua vontade de viver - podendo ser por exemplo: por um evento em específico no decorrer de sua vida, tornando-se estagnado em seu próprio espaço e tempo, limitando ou até cessando suas relações - estaria entrando em conflito com seu próprio organismo que luta incessantemente para sobreviver. Poderia isto ser considerada uma forma de morte? Ou talvez um morrer gradual?
   
   O que se crê, segundo pensadores/estudiosos, é que a morte vai além de um viés meramente orgânico, e que existe mais de uma faceta para este objeto complexo, seja ela emocional, ou até espiritual, afinal, além do próprio indivíduo, a morte possui um efeito muito mais amplo.

- João Marcos Neves